Tengo apenas dos manos
y el sentimiento del mundo,
mas estoy lleno de esclavos,
mis recuerdos se escurren
y el cuerpo transige
en la confluencia del amor.
Cuando me levante, el cielo
estará muerto y saqueado,
yo mismo estaré muerto,
muerto mi deseo, muerto
el pantano sin acordes.
Los camaradas no dijeron
que había una guerra
y era necesario
traer fuego y alimento.
Me siento disperso,
anterior a fronteras,
humildemente os ruego
que me perdonéis.
Cuando los cuerpos pasen,
me quedaré solo
deshilando el recuerdo
del campanero, de la viuda y del microscopista
que habitaban la barraca
y no fueron encontrados
al amanecer
ese amanecer
más noche que la noche.
Sentimento do mundo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo. Pongetti, 1940. Traducción: Conrado Santamaría
Imagen: Holger Droste